Sento a minha infância num tapete, de pernas ligeiramente
abertas alinhadas com os olhos que me enchem o balde de brinquedos a preto e
branco. É uma infância de colarinhos fartos até meio dos ombros, que desabotoam
um sorriso que já rilha uma melodia da telefonia. Tocam-se as coisas com uma
mão mais sensível, agarrada que está a corda que marca o perímetro das flores
que ainda cheiro, nos jardins onde me levaram a passear. A água fresca do
bebedouro continua a querer correr pelos meus lábios bem penteados num corte de época.
Para matar essa sede, endireito as costas nos anos passados, e subo um degrau que
ainda me continua a parecer um prédio alto cheio de habitantes. São almas
inquilinas que me olham os sapatos corrigidos nas pedras de calçada portuguesa,
e sussurram para o lado cuidados que devo ter para que não junte demasiado os
joelhos, e sorria descansado para a fotografia. Dizem também que este tapete não
é mágico, porque uma mão no coração não chega para o aspirar.
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