O palco tem o chão todo das vindimas da expressão, e
cheira melhor com o teu suor. Quando o pisas, a tua boca é como uma porta aberta para os beijos rápidos que tropeçam nas paredes que a seguram. São os
lados todos do rosto que existe nesse corpo nu, iluminado por candeeiros que
deitam para fora a luz, como se fosse uma língua que te dá a volta até ser
orelha. As mãos que saem do meu aplauso são a continuação do teu pescoço,
arrepiado pelos cabelos apanhados todos juntos num lençol ao alto. Ao mesmo
tempo que te esqueço os últimos movimentos, mordem-se colares de pérolas com
dentes postiços, que irão repousar, lavados num copo usado para brindar
aos pêlos que ficam agarrados às costas de uma cadeira, recordação dos corpos que a habitaram. O palco é um chão de árvores mortas por amor à arte dos passos
declamados, quase sem um ruído que sobre do caminho até lá chegar. É a ideia
que resta, o barulho dos ventos que são as palavras apontadas por um dedo em
riste, a partir do canto escuro da alma que as dita. Em algum momento é noite,
e o pano sobe.
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