sexta-feira, 9 de agosto de 2013

TEATRO



O palco tem o chão todo das vindimas da expressão, e cheira melhor com o teu suor. Quando o pisas, a tua boca é como uma porta aberta para os beijos rápidos que tropeçam nas paredes que a seguram. São os lados todos do rosto que existe nesse corpo nu, iluminado por candeeiros que deitam para fora a luz, como se fosse uma língua que te dá a volta até ser orelha. As mãos que saem do meu aplauso são a continuação do teu pescoço, arrepiado pelos cabelos apanhados todos juntos num lençol ao alto. Ao mesmo tempo que te esqueço os últimos movimentos, mordem-se colares de pérolas com dentes postiços, que irão repousar, lavados num copo usado para brindar aos pêlos que ficam agarrados às costas de uma cadeira, recordação dos corpos que a habitaram. O palco é um chão de árvores mortas por amor à arte dos passos declamados, quase sem um ruído que sobre do caminho até lá chegar. É a ideia que resta, o barulho dos ventos que são as palavras apontadas por um dedo em riste, a partir do canto escuro da alma que as dita. Em algum momento é noite, e o pano sobe.

Sem comentários:

Enviar um comentário