Um
lugar bom para morrer várias vezes, o banco de urgência deste hospital.
Não
pedi para me sentar, mas permaneço.
O ar
pesa com calçado usado das caminhadas de cada um; julgo que devem ter sido
muitos os passos, para justificar este fedor.
– Isto vai escorregar! – Diz alguém, no
corredor.
À
minha frente vejo perto, um dos lugares possíveis da loucura, os olhos desta
senhora que há muito abandonou a cadeira de rodas que a agasalha, e vagueia
pelas luzes brancas com pressa de anjos.
Reparo,
distraído, que este banco está cheio de cadeiras passageiras, e todas já ocupadas
com filas de espera.
A
quase agressão em família, por um pneu onde sentar.
Porque
todos devemos ter um lugar onde não existir, e lutar por ele.
Aqui,
o meu lugar é no chão humilde, onde abraço o pensamento longe e com ternura o
meu lobo progenitor, e espero que o nosso nome igual faça eco nas colunas que
transmitem pouca música, nesta feira colorida em cada pulseira à espera de braços
agarrados.
Ouço-o
agora, e levanto-me urgente como se estivesse à espera deste momento desde
sempre.
Decerto
treinei os movimentos num sonho prolongado, e agora concretizo.
Somos
levados para um sítio mais amplo, onde apetece permanecer em solidão; mais
acolhedor, e onde as indicações são dadas de viva voz por assistentes engraçadas
na sua incorrecção antipática, porque ainda não se jantou.
E
todos temos fome quando nos mexemos.
Vejo
quartos de brincar no escuro, com símbolos de radiação afixados à entrada, a
prometer corpos bronzeados.
As
macas transportam só corpos, que as almas gostam de passear soltas de mãos, por
todas as salas que não estão ocupadas.
O
labirinto é cronometrado por um relógio parado numa conversa de telenovela.
O
lobo que tenho ao meu lado, queixa-se de uma barriga cheia de vida que o
paralisa; não tanto pela dor, mas pela irritação com o corpo que também erra na
idade.
Tem
um tubo na mão esquerda, e é um canal de pêlo encravado.
Prometo-lhe
um osso com carne farta pela paciência, e já o reservei na montra da máquina de
vendas.
Funcionários
que aprenderam todos na mesma escola do engano, onde a frase maestra era só um
bocadinho.
Aceno
com a cabeça, e digo que não temos pressa. Agradeço até este momento em que o
dia ficou parado e metido em tubos de sangue.
Corpos
curvados sobre outros corpos já não tanto, e vómitos que pedem desculpa à vista
de todos.
O
meu é um coração do medo, onde estão bocas abertas em silêncio.
Estou
quase a ir-me embora, só não sei quando.
Vou
esperar que alguém o diga.
Para
tudo há um botão e o diabo que o carregue.
Afinal
é vesícula que se tem de operar em instrumentos de um furo acima, e eu sempre
disse que tinha maus fígados de berço.
O
amanhã é uma máquina avariada.
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