Começo
num espaço apertado só com duas mãos apoiadas. As pernas são projecções da
parede antiga que se deixa tocar por vozes celestiais. Chega a emocionar-se, e
não é caso para tanto. Eu uso-as para andar manco por um vestido branco que
veste um sólido geométrico doente que me escapou das mãos. Nas aulas de
Geometria da TV Escola. Na minha humilde miopia acho que vomita palcos e um
chão de sangue. Dois corpos mais próximos abraçam uma coreografia reprodutora
de mais alguns. Concentro-me num apenas e a minha fala nunca chega a entrar. Mascaro-me
de humano com mangas misturadas de outras que não as minhas. Apanho a tempo um
xaile ainda a arder que sei de cor. Tempo para uma guilhotina com goma da falta
de uso por uma fila indecisa de cabeças. Esperam por panos macios no balde de
areia e combinam alternativas à vez. É uma sedução em câmara lenta que protege
um coração metido em cabelos. Na rua exterior ao espaço pressinto bandeiras das
nações representadas por falsos risos de criança, e são empurradas para uma
roda de sapateado. Não me distraem. Quase no fim, deixo-me cair numa bicicleta
de pneus magros e saio de cena imitando uma guitarra sem cordas.
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