sábado, 22 de junho de 2013

POR UM FIO




Ouço uma voz de quase silêncio, no aparelho de rádio que tenho sintonizado para Norte. É um discurso de pouca ciência ou nenhuma, onde são enumeradas evidências dormentes sobre assuntos que não chego a perceber. Sinto-o como ondas que podem ser enviadas da janela de qualquer um, podendo iniciar-se, assim, experiências interessantes entre duas pessoas ao acaso. Pode ser útil para outra pessoa ainda,  inspirada além do temperamento. Sou bom a estabelecer relações que só vão a um único sítio, e é de clima quente. Utilizo um detector vasto, de arames puros. É um edifício do conhecimento acabado de construir a uma distância inimaginável. Comecei a trabalhar pelo telhado e os engenheiros ajudaram com outros planos nas minhas costas. Tenho como público uma revolucionária, que abriu a caixa e ficou conhecida por ser Pandora. Tudo em detalhe são desmaios que dão origem a um alvoroço desiludido. Velas mal acesas; a elas um sopro e um escuro que vem depois de interruptores. Nada de tristezas nem tapetes para sacudir. Este fim-de-semana há eventos e são os nossos de mastigar. – Porquê prolongar um sofrimento? Penso com carinho neste emaranhado de fios-de-prumo que ditam a minha inclinação natural para o vazio, ao mesmo tempo que se instala em mim um conforto de portas velhas a ranger nas notas todas. É quase uma coleira – a tua boca – com espaços por preencher nos sítios dos dentes ausentes com que mordo disparates. Significa que isto vai acabar num instante, ocupando uma prateleira em altura. São só artérias acima do solo, com signos em trânsito, cortadas por lâminas coordenadas. Pois podemos ser sugados, a qualquer momento, deste corpo pouco a que chamamos nosso por conveniência. – Fechem as janelas! Passam por mim os destroços do edifício antes construído, que servirão para múltiplas catástrofes ainda este ano. Há indícios de jejuns paralelos, e avanço nessa direcção. O caminho é longo e tenho necessidade de pernoitar. Abrigo-me no quarto seguro de um hotel abandonado que tenho no meu quintal, e rodo sobre mim próprio, em espasmos de consciência. Às vezes estou atento ao clima, e adoro tempos mortos. – Tens de cuspir sempre o meu nome? Acordo num dia qualquer a seguir, e ponho os pés juntos, cada um por si, num tapete rolante cheio de buracos preenchidos com restos de refeições. De festas de balões. Vejo pelos cantos olhos de caroço. Retiram-se moídos da palavra bastarda que não encontra a fila correcta para a qual tirou a senha de ordem. – Está na hora de empacotá-las! Um aparelho derrete-lhe as pontas, na fábrica que todos os dias visito. Por vezes piso-a, à palavra, e vem agarrada à sola da minha bota, sujando-me a casa que habito. Serve como abrasivo desta superfície a que chamo pele.

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