Uma
imagem à distância de um chão de ontem. Eu, de joelhos nele e um esforço de ser
preciso. Nas minhas mãos, um balde de várias formas contendo sonhos e uma
serra. Olho para o fotógrafo à distância de anos, e sei que foram botas
ortopédicas que me condicionaram o movimento para o registo. Assume-se antes
uma pose sentada, partilhada com um rodapé e um tapete de pregos que não
aparece na fotografia. Um sorriso de olhos e uma telefonia cercada por mim
próprio e um anjo em forma de laranja humanizada com pestanas e mecanismos. As
molduras vão-se decompondo, e só resta a edição de paisagens já escolhidas.
Coloco-me em jardins desertos de pessoas, onde passam automóveis constantes que
só se abastecem em bebedouros e existem como árvores, com elas partilham
lençóis. Poses no meio de raízes, com cintos sem fivela e mãos de mãe por
detrás da lente, diminuídas da sua verdadeira beleza de estúdio. Uma dentição
simpática que recordo sem ter os olhos todos, sentado quase a cair de um banco
extenso. Rostos encaroçados de partilha num só coração, que bate a dois tempos
umbilicais mesmo à distância de uma mala. Cravo os pés com mais alguém e um
guarda-chuva, numa ponte centrada na imagem que tenho dentro de um bolso
antigo, cozido a preceito por uma máquina de família. Santos frágeis. Tenho
alguns atrás das costas, enquanto observo de perto um volume de palha a
fazer-se casa em altura de um homem. Por vezes pegam-me ao colo, para que a
fotografia não fique tremida, em outras faço caretas abaixo do chapéu. Viajo
frequentemente por outros arbustos e plantações de bacios substitutos de vasos.
Tenho tantas imagens em papel, até uma barba de meses seguidos de rock, pendurada numa vénia ao chão
disforme que piso. Lavadeiras saem por torneiras, e lavam serapilheiras usadas
depois de pevides. Noutra olho para baixo, ao lado de uma família e tenho um
cão de cor que me apanha as migalhas. Gosto quando são de lugares à janela e de
burros sem albarda, ladeados por abutres amigos nos caminhos sazonais. Da
ausência faço uma auto-estrada regular, para sorrisos com dentes de ouro e
cadeiras sem vértebras. Tenho um avião numa escala razoável, sobre uma toalha
de crochet imaculado. Agarro-me a
metais com girinos martelados dentro de oficinas torcidas. Sou sempre eu que
apareço num escorrega, com uma metralhadora e um telefone perto. Espero por
canções de embalar que já não tocam na rádio, enquanto jogo a pular uma corda
imaginária. Em segundo plano e ao lado de pilares esculpidos por povos de
antes, tenho um fantasma vestido com um fato que é só calças presas por uma
corda de linhaça. Candeias de azeite esperam no sopé das serras à volta, por neves
que nunca mais virão. Um abraço de chuva é uma herança de pele curtida. Os joelhos continuam no chão, aparentemente. Agora com
uma junta de bois pela trela e à espera do disparo da objectiva.
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