sexta-feira, 13 de setembro de 2013

13



Nasci em casa num dia 13 – disse alguém, sem emoção. 
Onde menos se espera, nasce alguém. Não é como os domingos, que nascem sempre no mesmo dia da semana. Este foi um dia ímpar, em que um homem bom acompanhou a sua mulher. Os pais de alguém. Ao menos uma vez. – Onde? Deram-se abraços rápidos, e ecoaram palmas estridentes. Montou-se para a fotografia, um cenário de cartão com a imagem de uma manhã com sol. E uma nuvem. O telefone da casa onde nasceu alguém, enlouquecido, desatou a tocar nas outras casas com telefone. Quando uma voz atendia, perguntava por nomes de família e pasteleiros preferidos. Às vezes, não havia uma resposta. Querem desligar, ir-se embora. Mas não podem. São reféns do melhor momento de um momento na vida de alguém, onde as luzes aparecem poupadas, intermitentes. O homem bom e a sua mulher festejam este dia 13 com veneno. Bebem-no amarelo, e habituam-se. Tem uma digestão boa, e um prazo de apreciação razoável. Sabem que é um sonho rápido, e não perdem tempo. Em pensamento, vão buscar um amigo, um irmão gémeo. Alguém que viva longe deles, sem idade. Alguém que trabalhe os meses de Maio no campo a lavrar terreno, onde se vão semear crianças caladas. Para o silêncio de amanhã. A mulher escolhe a terra arada. Um sítio de mães que fugiram, para serem casa melhor para as explicações que não querem dar. O homem bom não sabe o que escolher, mas já bebeu. Mais tarde no dia, vão ser memórias maltratadas por coisas não muito melhores. O rasto perde-se em minutos de abraço. A ansiedade é interior, perfeitamente definida num dia perfeito. Um preço baixo. Já não querem impedir que a estória não pare. Guardam nos seus bolsos miniaturas de cabelos cortados em Setembro. A sua pele é uma mancha corrigida no ar rarefeito do tempo contado. Um suspiro parecido com calma. Riem-se. Riem-se muito da vida, enquanto não encontram mais parentes vivos nos seus pensamentos. Têm força. Para voltar a um sítio onde tocam os telefones. Sabem que não vale a pena estarem nervosos. Beijos à filha e obrigado nós.

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