– Nasci em casa num
dia 13 – disse alguém, sem emoção.
Onde menos se espera, nasce alguém. Não
é como os domingos, que nascem sempre no mesmo dia da semana. Este foi um dia
ímpar, em que um homem bom acompanhou a sua mulher. Os pais de alguém. Ao menos
uma vez. – Onde? Deram-se abraços
rápidos, e ecoaram palmas estridentes. Montou-se para a fotografia, um cenário
de cartão com a imagem de uma manhã com sol. E uma nuvem. O telefone da casa
onde nasceu alguém, enlouquecido, desatou a tocar nas outras casas com telefone.
Quando uma voz atendia, perguntava por nomes de família e pasteleiros
preferidos. Às vezes, não havia uma resposta. Querem desligar, ir-se embora.
Mas não podem. São reféns do melhor momento de um momento na vida de alguém,
onde as luzes aparecem poupadas, intermitentes. O homem bom e a sua mulher
festejam este dia 13 com veneno. Bebem-no amarelo, e habituam-se. Tem uma
digestão boa, e um prazo de apreciação razoável. Sabem que é um sonho rápido, e
não perdem tempo. Em pensamento, vão buscar um amigo, um irmão gémeo. Alguém
que viva longe deles, sem idade. Alguém que trabalhe os meses de Maio no campo a
lavrar terreno, onde se vão semear crianças caladas. Para o silêncio de amanhã. A mulher escolhe a terra
arada. Um sítio de mães que fugiram, para serem casa melhor para as explicações
que não querem dar. O homem bom não sabe o que escolher, mas já bebeu. Mais
tarde no dia, vão ser memórias maltratadas por coisas não muito melhores. O
rasto perde-se em minutos de abraço. A ansiedade é interior, perfeitamente definida
num dia perfeito. Um preço baixo. Já não querem impedir que a estória não pare.
Guardam nos seus bolsos miniaturas de cabelos cortados em Setembro. A sua pele
é uma mancha corrigida no ar rarefeito do tempo contado. Um suspiro parecido
com calma. Riem-se. Riem-se muito da vida, enquanto não encontram mais parentes
vivos nos seus pensamentos. Têm força. Para voltar a um sítio onde tocam os
telefones. Sabem que não vale a pena estarem nervosos. Beijos à filha e
obrigado nós.
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