Começo por cima, pelo telhado. Não, telhado não. Céu.
Debaixo dele, todos os outros espaços se habituam. Não, espaços não. Mundo.
Onde cabe tudo o que é aberto vivo, operado com o coração à vista de todos. Todos
os pedaços de corpos sem direcção. Às vezes, um homem esquecido. Uma estação.
Um homem em pedaços num mundo de prisão. Este é um homem demasiado grande para
caber entre paredes, e não existem prontas para vesti-lo, confortáveis. Uma
casa. Não, casa não. Destroços. Já coube ele numa, mas ruiu com o peso da sua tristeza.
Serve-lhe a rua, como um espaço, e tem um pau na mão. Não, pau não. Ficção. Treina
uma magia desajeitada. Não sei se foi ele, mas começou a chover. Não, chover
não. Chorar. E molha a pele de todos, mais o pêlo dos seus cães. Não, cães não.
Filhos. Nascem-lhe dos pés, e são três. Atrasam-no sem corda, e são de uma raça
adequada para o frio. Olham só o chão. O homem pára várias vezes no espaço da
rua. Não, pára não. Existe devagar. A este homem, nunca o tinha visto. Aos cães
também não, mas são estes mais difíceis de pararem quietos nas minhas
recordações, ávidos de ossos. Este homem carrega uma agressividade suave,
deixando a força da dentada para os seus cães, treinados a desobedecer aos
outros homens. Não, agressividade não. Missão. Dele, homem, este homem, só virá
a ordem, e será o mal só por isso, por mandar. Um homem que veste o manto da
rua, que é sempre um tamanho acima do seu corpo. E a rua não é mansa, tem ela a
raiva toda que não cabe nos lares, e eu não sei onde mora este homem. Olhar
para ele, sei. Olhar os olhos dele, a sua brecha de fraqueza. Ver chuva nos
seus cantos, retida como uma lágrima para sempre. A sua pena. Uma pesada
tristeza, e debaixo dela já ruiu uma casa. Ele passa por mim, e a sua alcateia
sossegada rejeita-me, continuando a olhar só para o chão. O homem que trouxe a
chuva olha para mim. Eu continuo parado. Não, parado não. Perdido.
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