domingo, 29 de setembro de 2013

NEVOEIRO



A noite está mais fria, mas tive a sorte de aqui chegar. A uma cozinha acolhedora, para a última refeição. É um espaço abandonado por outros, onde resta uma caixa de fósforos e uma cadeira velha de madeira. A carne trouxe eu, ainda nua e embrulhada em sangue. Um fósforo acende o forno de lenha, e não é o primeiro, com a madeira da última cadeira que aqui havia. No tempo rápido que preciso, para olhar o resto do espaço. Tento não me distrair, abrandar, com as chamas atiçadas às pernas partidas da cadeira. O fumo já sai do forno, um nevoeiro de laboratório, a nascer. Pouco denso, e com um aroma a vida debaixo de outro céu. É o bastante, para emprestar sem tempo, uma cor da família dos cinzentos, a tudo o que é superfície. Toca em tudo, com um à vontade cúmplice, quase um abraço. Lá fora, na rua deserta, percebo que acotovelam-se rajadas de um mesmo vento, essa entidade única que ganha sempre um braço a mais, de ferro. Para decidirem qual delas consegue a mão da dança, com a chaminé que alimenta de ar novo o forno em chamas. O nevoeiro faz amigos.

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