A
noite está mais fria, mas tive a sorte de aqui chegar. A uma cozinha acolhedora,
para a última refeição. É um espaço abandonado por outros, onde resta uma caixa
de fósforos e uma cadeira velha de madeira. A carne trouxe eu, ainda nua e
embrulhada em sangue. Um fósforo acende o forno de lenha, e não é o primeiro,
com a madeira da última cadeira que aqui havia. No tempo rápido que preciso,
para olhar o resto do espaço. Tento não me distrair, abrandar, com as chamas
atiçadas às pernas partidas da cadeira. O fumo já sai do forno, um nevoeiro de
laboratório, a nascer. Pouco denso, e com um aroma a vida debaixo de outro céu.
É o bastante, para emprestar sem tempo, uma cor da família dos cinzentos, a
tudo o que é superfície. Toca em tudo, com um à vontade cúmplice, quase um
abraço. Lá fora, na rua deserta, percebo que acotovelam-se rajadas de um mesmo
vento, essa entidade única que ganha sempre um braço a mais, de ferro. Para
decidirem qual delas consegue a mão da dança, com a chaminé que alimenta de ar
novo o forno em chamas. O nevoeiro faz amigos.
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