terça-feira, 24 de setembro de 2013

ALVO



Um lugar. Descreve-me esse lugar. Preciso que me fales dele, e olhes para mim. Como é, como são as mãos aí. Descreve-me um momento aí passado. Acorda. Não precisas de olhar, se não quiseres. Fala-me apenas. Fala-me desse outro sítio. Quero saber. Se existe aí madeira transformada em outras coisas, objectos. Podes falar. Quero saber, mas não me importo. Se é perto de nós, estranho. Eu escuto. Que lugar é esse, diz-me. Não te preocupes, que eu também olho para ti, sem querer. Mas não quero imagens, quero a tua boca de olhos fechados. Ouvir-te beijar. A descrição mais completa desse lugar que sou eu, em ti. Assusta-me com o escuro, com o teu peito. Aponta-me uma cadeira livre, onde aguentemos conversar. Eu não falo, olho para ti. Grita-me a partir desse lugar, do teu vestido branco. Ouvir o silêncio do resto, enquanto me olhas também, se quiseres. Que a tua boca se abra devagar, para que eu possa apanhar todas as malhas caídas dela. Que são esse lugar que és tu. Eu sou outro. Outro lugar, um verbo de estar. Um rosto transpirado, no fundo negro do teu peito. Em que desapareço. Aparecem nesse lugar, depois, mais rostos. Muitos, emocionados com todas as expressões, também transpirados. Mas têm luz nas costas, e eu quero o escuro. O total do teu peito inquieto, enquanto me falas do lugar que existe. Como és. Se for preciso, entendemo-nos com cordas, que os corpos também se amarram. E há sempre um mais sossegado.

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