Um lugar. Descreve-me esse lugar. Preciso que me fales
dele, e olhes para mim. Como é, como são as mãos aí. Descreve-me um momento aí
passado. Acorda. Não precisas de olhar, se não quiseres. Fala-me apenas.
Fala-me desse outro sítio. Quero saber. Se existe aí madeira transformada em
outras coisas, objectos. Podes falar. Quero saber, mas não me importo. Se é
perto de nós, estranho. Eu escuto. Que lugar é esse, diz-me. Não te preocupes,
que eu também olho para ti, sem querer. Mas não quero imagens, quero a tua boca
de olhos fechados. Ouvir-te beijar. A descrição mais completa desse lugar que
sou eu, em ti. Assusta-me com o escuro, com o teu peito. Aponta-me uma cadeira
livre, onde aguentemos conversar. Eu não falo, olho para ti. Grita-me a partir
desse lugar, do teu vestido branco. Ouvir o silêncio do resto, enquanto me
olhas também, se quiseres. Que a tua boca se abra devagar, para que eu possa apanhar
todas as malhas caídas dela. Que são esse lugar que és tu. Eu sou outro. Outro
lugar, um verbo de estar. Um rosto transpirado, no fundo negro do teu peito. Em
que desapareço. Aparecem nesse lugar, depois, mais rostos. Muitos, emocionados
com todas as expressões, também transpirados. Mas têm luz nas costas, e eu
quero o escuro. O total do teu peito inquieto, enquanto me falas do lugar que
existe. Como és. Se for preciso, entendemo-nos com cordas, que os corpos também
se amarram. E há sempre um mais sossegado.
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