Antes
de seres a última coisa, cabe-te tudo atrás das costas. Escorre tudo devagar para
ti, gritando-te momentos e desavenças, reais ou imaginárias. Alimentam a
estranha ficção que é o dia numa pessoa, cravado de vários assinaláveis marcos.
Tudo parece ser importante, e depressa é passado. O que fica depois, não é
senão uma relação paralela com determinados X e Y, no lugar da coisa por morrer,
ocupando-se já esta com a paciência do último descanso. Não há pressa. Este
lugar do nada, é apontado por mim no mapa do mundo, com dedos frios, trémulos
pela ansiedade da descoberta distante de um outro agora, deslocado sete horas
de avião. É a árvore que me nasce, a partir de um pêlo encravado, confortável
como uma carraça atrás da orelha furada, da qual já esqueci a dor. Um brinco
com a palavra ANO, a partir do qual deixei de ser menino com a pele do rosto ferida
pelas lâminas, no simulacro da idade maior consciente. Lembro-me do poço escavado,
encomendado pelo meu pai a um empreiteiro – um filme de terra esventrada – a que
assisti como um noivo, esperando por um anel de betão, muitos, até aparecer
água turva virgem de bocas. Não lhe conheço o fundo, como se fosse este
irrequieto, deslocando-se numa brincadeira de ecrã brilhante. Um fundo,
verdadeiro ou falso, a partir do qual ergui as minhas alturas, todas marcadas
na bainha das calças como uma inundação excepcional. Nasci simples, como o início
do desenho picotado em cima da esponja, na primeira aula de todas. Já não me
lembro do desenho, mas tenho a marca nos dedos, do ferro emendado nas vezes
necessárias. É a minha casa vista do espaço, por alguém que espreita a partir
de um rosto admirado com a minha tristeza. Com o meu nariz de palhaço, molhado
das lágrimas dos dias maus, negros, como o buraco do cu cismado com a purga do
peso que trago a mais, descartável pela biologia do corpo que ainda funciona.
Onde o nevoeiro começa, não é tarde. E não havia pressa. Escuto. A bala vem
para o peito, tatuada à hora marcada. Em ponto.
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