sábado, 25 de maio de 2013

SOUL KITCHEN


«Dizer um corpo. Onde nenhum. Mente nenhuma. Onde nenhuma. Ao menos isso. Um lugar.»
Samuel Beckett



Colecciono cozinhas com botões de nylon e veios
no mesmo sentido, torneiras com ficção e sem ligação a
nada e coisa nenhuma ao lado de
tomadas onde o último aparelho foi
escorrido em cravo num vaso e
pão do dia em que amasso letras fora e ponho-as
em assados e facas afiadas.
Alecrim e mostarda narinas adentro com imanes
ao peito esmurrado de vermelho mão.
O papel de memória absorvente é imundo
em calcário e tem lugar ao meu lado.
Uma extensão de electricidade pouco segura dos seus
dedos, caminhos e receitas.
Acima da linha de água, marcas de inundação também
a vermelho e são diárias.
Rede na caverna de esfregão que não cabe
em tanta sombra tudo
fora do lugar da pedra confirmo o gume, fatias de mim fino;
o coto que resta deito-o ao sal grosso.
Ouço algo.
O papel ou faz muito barulho a amarrotar ou é café
de colheres largas.
Tudo tépido acima do frio feito a
marinar tabacos, a minha mortalha devolvo-a
à despensa.
Do escadote aproveito pouco e são só degraus.
Demoro um pouco mais a porta, aberta pois gosto
de desinfectante já usado em perfume
de noite e alegria por saber ter
tantas lâmpadas ainda ali.
Os únicos artigos de arrumação são e passo a
vida a descrever: caixa de gelatina e sacos para os ossos.
Os meus, depois do coto.
Contudo a pele adocicada e a boca com molas.
É tudo reciclagem e amanhã volta a inundação.

Ao pequeno-almoço.

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