domingo, 19 de maio de 2013

O BISPO E A AZEVIA

Vou contar, mas não espero por vocês.
Quando muito, até três.

Foi no sábado; um pouco mal passado, quase no ponto.
No quente da família ao lume, cozinhada na panela gasta do requinte centrífugo.
Pimenta e outros condimentos são de pouca atenção agora.
A crosta negra tem sabor mais prolongado; de meias horas em umbigos de botão, encostados em segredo.
Este soube por mim entre garfadas; e o que aí vem verifica-se.

O até agora mestre de mão cheia e calejada de mil azares, em punhetas finas de bacalhau, achou que tinha chegado a hora e a oportunidade.
Não ainda de mudar de nome, que isso só depois da operação.
Por agora, ia existindo como o Bispo da freguesia e alguidares.
E das lavadeiras todas, com roupas barrentas encostadas aos tanques comunitários, mas sem peixinhos.
Vai pregando só aos homens, mas é próximo dos segredos de alcova em verso, das domésticas de colher de pau antigas, na mão, em outros açoites.
Com ouvidos já moucos de tantas tertúlias impostas, pediu atenção a ele próprio e fez o exercício da autocritica.
O momento pedia recato; para tal dirigiu-se para a torre da menagem, e instalou-se na sala dos três degraus.
Um por cada contagem.
Longe dos odores de migas e concentrados de tomate.
Pensava ele em santos.
Os aromas bastardos, apesar de irem diminuindo em tragédia ao longo dos cento e cinquenta e tal azulejos brancos encardidos ao longo do corredor, sempre se iam alojando em perícia, nos pêlos de nariz.
Macaquices.
E vai trinta metros. E tal.
Azar de tesoura; esquecia-se sempre de os aparar em mil banhos de oportunidade.
Mas o espelho era pequeno em vontade; ia toda para a lista das compras.
Mesmo assim e com tanta contrariedade, irá tentar preservar o decoro no que puder.
Um ditado de palavras cheias; um qualquer memorando de coisa nenhuma.
- Aprovado, disse.
Mas não havia ninguém naquela sala, só ele e os outros dele.
- Vou mudar de mister, que a patanisca não dita a minha mobilidade.
E melhor continuou, para quem desejasse.
- Vou já do verão ao natal, e peço autorização aos superiores para a azevia.
Não esperava tanta burocracia; até um raio x da alma, que atestasse a vontade.
-É para evitar o engano da vocação, disse-lhe o Papa tudo.

Logo ali se expôs uma pequena fractura; indignado por tantos sacos de batatas-doces e entrançados de alho carregados por si ao longo dos anos.
Afinal a balança era viciada.
- Fica para a próxima, disse.

E registou para memória futura:

“Perante estas contrariedades e a necessidade de optar, antes punhetas.
O bacalhau é mais nosso e português, estou mais acostumado e leva menos ovos.
Sinto que há aqui um divórcio ideológico insuportável, entre a matéria-prima e a gema.
Assim, nem nós moldamos o palato, nem as putas vão para os cruzamentos de barriga cheia.”

Eu ajudo à festa, e arrisco uma conclusão:
Perdemos todos!

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