segunda-feira, 8 de julho de 2013

ANEL SEM DEDO



Estou a meio de um espaço. A meio, não. Mais a cair para a atmosfera.
Pertenço a um gigantesco movimento, gerado pelo pesar da decoração só com cadeiras. Daquelas em que no final da dança atordoada falta sempre uma. Atraem-me as salas pequenas onde se dispõem em duplos impactos. Com gases à solta, em impropérios de estado da matéria. É um mito que trago numa mochila, um raro indício físico que ofereço do meu copo, a quem a quiser carregar. Ostento uma barba com alguns dias, mas são só aparências. Debaixo dos pelos tenho uma zona de impacto, que é ligeiramente acima do lábio superior, numa boca que me leva a algumas partes. Dentro da boca, umas cordas vocais que de tanto silêncio, e bem esticadas, servem como transporte em terra firme. Às vezes, antes de sair por aí aborrecido e mais além, fecho a torneira da sala mais pequena. Esta alimenta o mar único que existe, e que acaba antes do século terminar. Se ele não terminar, acabo eu como ele. Doente por cem anos de poeiras arrastadas por outros significados. Sinto-me um fóssil a partir da segunda opinião pedida a um médico qualquer, que é também um arqueólogo. Pois encontra-me sempre os ossos quando lá vou, e pago-lhe com a lama que os cobrem. Ninguém acredita que vivo numa cratera, e que me sento sozinho no chão, com a cadeira que falta sempre ao meu lado. Os indícios – dizem. Sozinho não é nada, mas eu tenho uma cadeira. Posso sempre esperar. Pedem-me conselhos sobre outros pequenos nadas, e em troca ajudo a empurrar os seus joelhos tortos para as trevas. Sem me desviar mais do que estava previsto para acontecer, passo ao lado de colheitas secas, e não descanso até chegar ao conforto da cinza. O descanso é coisa de cadeira, e agora vou andando. Por esse caminho em que me esforço – antes do eclipse total da memória – faço uma colecção de anéis de árvores derrubadas pelo sopro de um homem amargurado. Calça o número acima do meu, e pede-me que espere um pouco. Eu não posso e coloco os anéis, por cores aproximadas, no meu pescoço. Hei-de ter uma girafa no próximo jardim, para comparar com ela entorses, e vidros partidos em noites de arruaça. Indícios, sempre eles. De explosões de lugares que não vejo ainda, até que seja outra vez noite. Finjo um entusiasmo com a minha zona de impacto, e beijo a rocha de um vulcão. O que sinto são colisões com anéis empenhados, e que sejam duas as crateras.
Pois não vou a lugar algum, sem a minha girafa.

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