sexta-feira, 12 de julho de 2013

ESTADO GRIPAL









São 12h53.
A minha gripe chega a uma hora decente, a tempo de um chá adocicado com cefaleia. Sinto uma antecipação do mal-estar que me está reservado – comum a qualquer enfermidade – com rédeas curtas neste corpo. – Parece que só tem aquela atenção! As coisas belas da vista, são afastadas para posições sexuais difíceis, longe do agora e próximas de lenços de papel. Olho para os objectos, mas eles parecem fazer uma pausa estudada. O esforço para ir até um pensamento racional de ontem, torna-se uma aspirina difícil de engolir. A culpa, assumo-a toda, e digo para quem me quiser ouvir, que isto de tirar moldes do tamanho dos pés é uma arte em desuso. Não é que seja errado continuar um ofício perdido nos tempos, mas convém que o seja longe de janelas abertas para o frio da noite. Estou doente, mas com o orgulho seco. E substituo a cruz vazia que tenho por cima do meu colchão, por duas formas em pele de solas, que apontam o caminho.  Estão presas por pregos que são também eixos de rotação, e vão servir para a brincadeira que é rodar as manhãs, e ver para que direcções apontam aqueles pés mal recortados. No chão, ao lado do copo de água que me hidrata o sono, guardo agora um saco de plástico enorme, com rasgos que me cabem nos ombros. É um projecto de amortecedor que vou abrir, caso aqueles pés apontem para a janela.
Ainda é um segundo andar.

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