segunda-feira, 15 de julho de 2013

STOP MOTION



Acendo um cigarro com o tempo – dele – contado. Não me faz diferença que arda mais rápido que uma fogueira. Puxo o fumo para dentro de mim, e sinto como se tudo à minha volta começasse, finalmente, a adquirir o movimento próprio das coisas animadas. É uma sensação estranha, ao mesmo tempo que é uma evidência. A de que as coisas animadas pela vida – mas são pessoas – não estão à espera que um de nós, individualmente, lhes conte os passos, as mãos nos bolsos ou as gravatas ajeitadas num impulso. Mexem-se. E fazem-no como um objectivo que é o delas, pessoas, ou incutido por um anúncio mais eficaz. A um tempo de velocidade, que é este de agora, corresponde-me um gosto de sentir o tempo parado, por entre o fumo que me substitui o oxigénio nos pulmões. Exalta-me até, a percepção das imagens que vão parando nos meus óculos; os vários agora que edito depois, com a minha lentidão. Porém, nunca lhes dou os tempos que pedem apenas o suficiente, para que se sintam animados. É mais difícil quando passam por mim a correr; aí, sou obrigado a amputar-lhes o gesto, e a utilizar só uns segundos do seu pestanejar de pernas, como separadores de entidades diferentes. Baralho-me. Antes eram coisas, agora são entidades. Como se o simples passar continuado, pela minha retina atenta, animasse também o meu coração parado, permitindo-me chegar mais perto de um sentimento. Pois as almas, para que as vejamos como são, precisam de lágrimas interiores, consentidas a certos espaços de tempo, pela água vital que nos afoga o corpo quase todo. Por cima da complexidade do nosso molde, atestado por exercícios coloridos de moléculas, acrescentamos nós este ruído desnecessário da dúvida, que vem da nossa dificuldade em aceitar. Apenas aceitar. Que somos, todos, um movimento magnífico.

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