Tenho
a pele de um muro rugoso, que me serve com uma margem. Calço um rio apertado
com mastros, uma bóia aqui e ali, e tenho dentro águas paradas, apenas escarificadas
pelo vento de um fim que vem à tarde. Sempre quieto diante de um sol grande em
escala, o suficiente para ser três em tamanho de um rei de pedra. Ao fundo uma linha
de silhuetas, um contorno caótico de alturas, larguras e antenas. Remos
serrados que flutuam numa estrada líquida, com moinhos abandonados à sua sorte.
São casas vazias – só com almas – aquecidas debaixo das chapas que pousam
ferrugem nas estruturas dos espaços que ainda o são. A única roupa que trago no
corpo, são retalhos de uma vela que encontrei nas margens do meu calçado,
esquecida por fios atirantados ao céu que cobre isto tudo. Esta vela foi
estendida, antes de ser a minha vergonha, e tinha uma tinta invisível que lhe
cobria um corpo com desenho de asa cortada. Vozes próximas são a minha água que
fica no copo. Há um algodão que cobre o tecto do meu bolor, de passagem por
luzes que se vão acendendo à minha frente. É longe para atravessar, e espero
por uma armadinha que apanhe alguém do outro lado, e me devolva a esperança por
caminhos. Que a noite hoje não vem, pois é guiada por outro destino, com rodas
de triciclo em equilíbrio. Para outro ancoradouro que não o meu. É seco o meu
beijo, e choro lábios que prendem os teus. Sou uma vírgula que nunca sabe onde
estar. Um peito apertado pelas gaivotas que cabem nele, e que lá deixo pousar,
antes de te dizer:
– Meu barco silencioso.
Sem comentários:
Enviar um comentário