quinta-feira, 25 de julho de 2013

ESQUISITO



Ouço os pássaros. Julgo que os ouço. Se existem, estão agora nos meus ombros. Sinto-lhes essa proximidade possível, distribuída pelo peso das suas penas, num equilíbrio parecido com sons que saem de sítios diferentes. Quase combinados entre eles. É a harmonia da loucura – que julgo ser esta – vincada pelos cotovelos dos outros, enterrados no meu cadáver calmo, onde sinto tudo muito vivo. Uma fome de formigas viajadas, sedentas da multidão que é a minha pele. Como se fosse um abraço extenso, visto de cima para baixo, ou de onde se queira. Ainda consigo sentir essas coisas vivas, porque as minhas entranhas fazem-me suaves afagos atrás da testa, lembrando-me constantemente o que ontem comi. Aperto os dentes todos, a ver se poupo minutos mal pensados, de onde quero sair a tempo. Esta paralisia experiente, é como um gesto grave que me estende para o mundo, aberto em dois. Chego a pensar, que poderiam ser aqueles pássaros pesados, apanhados abaixo das asas por um inimigo doce, habituado a separar-lhes o coração sentimental dos pulmões necessários. Que assim, os tivesse aberto em livro para a morte da sua música, dispondo-os depois à volta do meu silêncio. Para que eu os admirasse, antes sequer de poder abrir a boca para o que quisesse dizer. Agora tenho a certeza que a única coisa parada aqui, são os meus olhos secos que olham para dentro do escuro, assumido que está esse tom como uma estação do ano, anunciada por temperaturas que já não reconheço. Sobra-me este canto animal dos pássaros que existem mesmo, mais do que antes julguei, e cantam todos ao mesmo tempo. Encolho os ombros.

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