O
mundo do meu insecto é também redondo. Um mundo com voltas infinitas, que
brotam de ovos brancos, dispostos como obstáculos. Os pêlos das minhas pernas e
os pêlos dele, negros também mas mais escuros, que se comparam à luz artificial
do dia. Na fome que tenho todos dias, por vezes penso em aperitivos fritos, com
rodelas de tomate que envolvem pedaços de queijo. É uma imagem que se forma como
uma nuvem no topo de um deles, e em que, qual montanhista orgulhoso do seu
cume, surge sem maldade o meu insecto. Está diminuído de antenas; tem uma só, e
bem penteada. A outra, é uma refrega já passada. Ausente. Tenho fotografias
dele, espalhadas por toda a casa, que ajudam a contar uma vida cheia de flores
amarelas. Poses de exosqueletos – um par – que são uma armadura. Uma dança do
acasalamento, com hora e lugar, capaz de deitar fora antenas.
– Será
que foi o que lhe aconteceu? Penso.
O
meu insecto é vaidoso, antes de ser sinistro. Pede-me colheres de sopa bem
lavadas, sem gordura, onde se perde a olhar. Um costume estranho até para mim,
habituado que estou a pôr alimentos na beira do prato, equilibrando assim o apetite
por mais. Um insecto físico, intenso. Com braços fortes, que obrigam um corpo
de larva a olhar para si próprio, antes de ser refeição. Trato bem dele, e afasto-o
de luzes azuis. Desenho as suas rotinas em folhas que ele não possa comer, e
estudo-lhe o movimento parado. Tento adivinhar-lhe a alma, dentro daquela
cabeça tão finita. O meu insecto sinistro, que é mais do que eu alguma vez fui.
E projecta uma sombra tão pequena.
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