quarta-feira, 17 de julho de 2013

CRIA



O meu coração está embrulhado num cobertor pequeno, de medidas iguais no seu contorno, em cima da cama que está no mesmo sítio onde a deixo todos os dias. É um quadrado cor de laranja onde cabe tudo o que é meiguice. Também um ursinho bonacheirão, que parece piscar o olho e sossegar-me. Que está tudo bem debaixo daquele pêlo, a que ele também pertence. Um quadrado animado pelo respirar da pureza, e do qual sai um braço para fora das suas medidas. Perfeito na sua miniatura de afago, e em que conto uma mão aberta para as borboletas que queiram entrar, pela janela que deixo aberta para a frente. Um amor grande num corpo ainda pequeno, que se ajeita conforme o vento lhe bata do lado esquerdo ou do direito, alimentando como água nascente aqueles caracóis que são raízes. De uma árvore quase acabada de plantar, mas que tem já todos os pássaros que quer a cantar para ela. Ensaio uma dança nos seus olhos, que irão abrir num instante, acompanhados de um choro que reclama beijos repenicados e bater de asas. Dos pássaros dela. Meus.

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